Arrependimento – Joel Beeke



O arrependimento é fruto da fé e da oração. Lutero disse, em suas noventa e cinco teses, que toda a vida cristã deveria ser marcada por arrependimento. Calvino também via o arrependimento como um processo que durava toda a vida. O arrependimento não é apenas o começo da vida cristã; é a vida cristã. O arrependimento envolve confissão de pecado e crescimento em santidade. O arrependimento é a resposta vitalícia do crente ao evangelho, em sua vida interior, coração, mente, atitude e vontade.

O arrependimento começa com o voltar-se para Deus, de coração, e procede de um temor puro e sincero a Deus. Envolve o morrer para o "eu" e o pecado (mortificação) e o achegar-se vivificado à justiça (vivificação) em Cristo. Calvino não limitava o arrependimento à graça interior, mas considerava-o o redirecionamento do ser de todo o homem, em busca da justiça. Sem um temor puro e sincero a Deus, um homem não pode conscientizar-se do horror de seu pecado nem morrer para o pecado. A mortificação é essencial porque, embora o pecado deixe de reinar no crente, não cessa de habitar nele. Romanos 7.14-25 mostra que a mortificação é um processo vitalício. Com a ajuda do Espírito, o crente tem de matar o pecado todos os dias, por meio da auto-renúncia, do carregar a cruz e da meditação na vida futura.

O arrependimento é, portanto, caracterizado por novidade de vida. A mortificação é o meio de vivificação que Calvino definiu como "o desejo de viver de maneira santa e dedicada, um desejo que resulta do novo nascimento; como se disséssemos que um homem morre para si mesmo, a fim de viver para Deus". A verdadeira auto-renúncia resulta de uma vida dedicada à justiça e à misericórdia. Os piedosos "cessam de fazer o mal" e "aprendem a fazer o bem". Por meio do arrependimento, eles se prostram em terra diante de seu Juiz santo e são levantados a fim de participar da vida, morte, justiça e intercessão de seu Salvador. Como escreveu Calvino: "Se participamos verdadeiramente da morte de Cristo, nosso velho homem é crucificado pelo seu poder, e o corpo do pecado é destruído (Rm 6.6), para que a corrupção da natureza original não floresça mais. Se participamos de sua ressurreição, por meio dela somos trazidos à novidade de vida, a fim de correspondermos com a retidão de Deus".

As palavras que Calvino usa para descrever a vida cristã piedosa (reparatio, regeneratio, reformatio, renovatio, restitutio) nos remetem ao nosso estado original de retidão. Indicam que uma vida de pietas é restauradora em sua natureza. Por meio do arrependimento produzido pelo Espírito Santo, os crentes são restaurados à imagem de Deus.

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